Quando eu era adolescente, 13
anos, uma colega caridosa queria me ajudar a mudar para ser mais bem aceita na escola.
O que fazer para incluir socialmente uma magrelinha de óculos,
aparelhos nos dentes, cabelos crespos e volumosos, que sentava sempre na
primeira fileira de frente para os professores?
Não que a colega em questão fosse das pessoas mais bem
enturmadas da escola, caso contrário não andaria comigo, mas seus esforços
benevolentes eram sinceros.
Seus ímpetos de me mudar ganharam corpo primeiramente com as
lições de caligrafia. Nunca me queixei da minha letra, mas ela a achava
definitivamente horrorosa.
De fato, minha letra era um garrancho se comparada à escrita
desenhada da colega. Por isso, ela tentou me fazer escrever tal como ela. Não
adiantou, mas minha letra mudou. Continua beirando a ilegibilidade para alguns,
mas acho-a linda que só!
Porém, lições de caligrafia não diziam muito a respeito da
questão central: minhas relações sociais. Só que seu empenho transformador não
se limitou àquilo.
Lembro-me de certa vez quando ela me viu de biquíni.
Surpreendeu-se não com meu corpo retinho como uma tábua, mas sim com meus
braços longos e fininhos.
Me disse que se eu não quisesse espantar os homens – meu
pronto fraco – deveria passar a andar sempre com os braços dobrados, ou seja,
não poderia mais andar com eles esticadões acompanhando o comprimento do corpo.
De fato, meus braços são longos. Dizem que os braços femininos
quando esticados ao longo do corpo têm sua extensão limitada a acima da metade
da coxa, enquanto que os braços masculinos costumeiramente se estendem até
abaixo da metade da coxa. Os meus
alcançam abaixo da metade da coxa. No entanto, acredito que não me incomodava
com eles até o momento que minha colega atentou para aquela “aberração”.
Em todo caso, mesmo sem quaisquer indícios de sucesso no
campo, a esperança é a última que morre e eu ainda tinha alguma expectativa que
algum dia eu chamasse a atenção de algum garoto, mesmo que as perspectivas não
fossem nada animadoras.
Então tentei seguir a dica da colega e evitar esticar os
braços. Mas como a disciplina corporal não era bem o meu forte, o desleixo
relaxou novamente minha postura.
O tempo passou e passei a só ver vantagens nos meus brações.
Aliados a minha altura mediana ampliavam o alcance das minhas mãos em
prateleiras elevadas, podiam buscar itens guardados mais ao fundo dos armários.
Se provocavam algum desconforto estético, as pulseiras vieram dar uma quebra e
adornar aquele que de um suposto defeito, tornou-se para mim uma obra de arte.
E segui satisfeita com meus braços até ontem, durante o banho.
Percebi com irritação que eles não eram suficientemente longos nem flexíveis
para alcançar toda a superfície das minhas costas. Imaginei que alguns
centímetros extra, com novas articulações pudessem ser ainda mais úteis.
Mariana Penna, 2014.
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