quinta-feira, 19 de junho de 2014

A velha do casarão



Havia no centro de Niterói um casarão abandonado muito bonito. Nele, a vizinhança sabia, morava uma velha louca. Há alguns anos, aquela senhora passou a habitar o casarão, enfurnou-se em meio àquelas paredes úmidas, cheias de mofo, amontoou a mobília carcomida pelo tempo e em um colchão fétido e esburacado deitava-se todas as noites.
No início do dia, perambulava um pouco pelo centro da cidade, principalmente ao redor da catedral, a poucos metros do casarão. Lá recebia alimentação. Então voltava para casa, xingando sempre todos os homens que cruzavam seu caminho. Resmungava e cuspia no chão, como se o mesmo fosse o rosto do ser agredido. Mas algumas vezes suas agressões não passavam impunes e a louca levou uns bons tabefes. Dizem até que certa vez um mendigo agarrou a velha mostrou-lhe o poder de seu falo mau cheiroso.
Mas, talvez por autopreservação, afinal mesmo na insanidade ainda pode existir algum senso de autopreservação, a mulher permanecia a maior parte do tempo que ainda lhe restava no interior do casarão.
Fora algumas visitas inoportunas, tais como jovens drogados de álcool ou outras substâncias, a velha podia desfrutar de certa paz ao enfurnar-se naquele imóvel em decomposição. Aquele era seu castelo mal assombrado, aqueles farrapos eram seu vestido de princesa amaldiçoada, aquele odor nauseante era o perfume putrefato do seu jardim.
Por trás de uma figura humana que só inspirava pena ou zombaria em seus semelhantes, residia uma história, não muito incomum.
Ninguém sabia seu nome por onde a velha se encontra, mas anos atrás ela se chamava Dora.
Algumas décadas antes, era de Dorinha que a chamavam. Era o chamego de seus pais, filha única, enchiam-na de mimos.
Ainda bem pequena gostava de andar pelo jardim a observar insetos: as formigas eram os que mais lhe agradavam. Seu pai comentava: “Essa vai ser cientista quando crescer! ”.
Já planejava comprar-lhe um microscópio de aniversário, mas não, algo chegou antes disso: havia algo que Dorinha passou a amar mais que as formigas, algo que podia faze-la até mesmo esquecer das formigas! Eram as histórias de amor de príncipes e princesas, heróis e heroínas, pessoas importantes que conseguiam tudo o que precisavam para serem felizes. O amor era perfeito, inebriante e eternamente intenso. Suas roupas eram lindas, suas casas castelos cheios de luz e esplendor. Assim, quem precisaria de formigas se pode usufruir dos Clássicos da Disney? Quem vai olhar com maior interesse a realidade a carregar folhinhas lá fora se dentro de casa um mundo cor-de-rosa a espera? Principalmente quando esse mundo está mais dentro ainda, dentro da cabeça, dos pensamentos, dos momentos de ócio ao sonhar acordada, ao mirar a paisagem para fora do ônibus, ao ouvir uma música romântica! ... O sonho tomou conta de Dorinha.
E desde bem cedo se manifestou, externalizando-se, encarnando-se em uma sequência de figuras masculinas.
Na escola, a tristeza pelo afastamento de seus pais deu lugar ao bem querer por algum coleguinha. Ano após ano, costumava enamorar-se por alguns deles, um de cada vez, lógico! Escrevia cartas secretas, confessava seus amores para suas amigas. Sonhava, imaginava situações empolgantes, beijos com gosto de mel. Não passava um dia em que fantasiar situações românticas não fosse o passatempo preferido de Dorinha.
Ao chegar a adolescência, pensava ela, era hora de transformar o platônico em real. Demorou um tempo até que conseguiu enfim obter seu primeiro beijo! Quanta ansiedade! Ela tremia tanto! Mas quando chegou o momento, não houve badalar de sinos, a trilha sonora do filme romântico não tocou, o cheiro de jasmins no ar não foi sentido e não houve nenhum sabor de mel. Não que tenha sido ruim, nada disso, mas simplesmente passou muito longe de tudo que ela ouvia falar e imaginava.
E passou-se mais tempo, tornava-se adulta e, como tal, enfim arrumou um namorado. E ele era um homem consensualmente lindo. De boa família, estudado, 7 anos mais velho que Dora, funcionário público. Era certo que suas amigas e principalmente suas conhecidas a iriam invejar. Dora se sentia importante ao lado daquele homem, mas por algum motivo, que ela nunca conseguiu bem entender, Leonardo nunca despertou nela aqueles arrepios tão esperados de quando ela assistia a algum filme romântico. Seu coração acelerou algumas vezes quando ele a tocou, mas não chegou nem à metade do que ela sentia em relação as suas paixões infanto-juvenis. Por isso, Dora concluiu que assim como o beijo perfeito só existia no plano da imaginação, um tórrido caso de amor era também àquele reino pertencente. Era portanto platônico, e sendo platônico, ela como mulher agora adulta, deveria finalmente deixar de lado. Afinal, uma coisa era fato: a sorte grande lhe sorria, e ela sabia que não eram poucos os que cobiçavam sua sorte e que se perguntavam o que fazia um homem tão bem apessoado com uma mulher de natureza ordinária. Então aceitou seu bom destino, aceitou todas as propostas que aquele belíssimo homem lhe fazia: namoro... noivado... e enfim: casamento!
E assim se encerra a história de Dorinha e começa a história de Dora.
Seu pai sentia que alguma coisa não estava muito certa naquilo tudo, mas não era da condição de um pai ter conversas sobre matérias sentimentais com sua filha. Resignou-se a sentir calado o desconforto de um pai preocupado com o futuro emocional de sua filha.
Casaram-se. Partiram em lua de mel. Dora ainda virgem, não porque tenha negado a investidas de seu noivo, mas porque este se absteve de fazê-las tendo em vista manter a pureza de sua inocente futura esposa.
No hotel, enfim o esperado momento da cópula matrimonial poderia se concretizar, mas não. O noivo se esforçou, mas a barreira física do hímen de Dora, possivelmente aliado ao nervoso do momento e sua consequente falta de lubrificação, impossibilitou que a noiva fosse penetrada. Foram necessários dois dias de esforços tremendos para que o casamento fosse consumado. E quando enfim o sangue lhe escorreu pelas pernas, ela se sentiu aliviada e pensou: bem, agora isso deve melhorar... mas não.
O sexo se tornou um drama na vida de Dora. De uma coisa profundamente desejada a um ato de obrigação e que só lhe provocava desconforto.
Certa vez ouviu dizer que algumas mulheres se queixavam da brevidade com que seus homens lhes penetravam, era a tal ejaculação precoce. Ai, mas como Dora invejava a sorte dessas mulheres! Seu marido, ao contrário, passava um tempo que lhe parecia horas a lhe penetrar, oscilando velocidades moderadas com aceleração intensa. Algumas vezes tentou pedir que ele não fizesse sexo com ela, deixasse para outro momento. Mas Leonardo forçava a barra e ela não sabia dizer não. Ela nunca sabia dizer não para ele.
Aos poucos, dia a dia, seu espírito foi se deprimindo. Com seu marido já pouco conversava, mesmo na época em que eram namorados. Mas foi se tornando cada vez mais calada com todos. Sentia-se triste. Chorava com frequência quando estava sozinha, principalmente no banho. Às vezes, quando sabia que não havia ninguém que a pudesse ouvir, chorava de soluçar ao ponto de seu corpo não suportar.  Pouco a pouco se arqueava, escorria pelas paredes do box até chegar ao chão. Lá olhava cair sobre si a água doce e quente do chuveiro, que corria em paralelo com a água salgada e quente de seus olhos sobre o rosto.
Mas quando seu marido chegava, sempre esboçava um sorriso, fazia o mesmo com relação às visitas. Mas qualquer um que a conhecesse de verdade, sabia que ela não era a mesma. O problema, pensava ela, é que parecia que ninguém a conhecia de verdade, pois sentia que ninguém percebia a infelicidade que diariamente ela mascarava.
Pessimista, não conseguia ver nenhuma alternativa para alterar sua situação. Não trabalhava fora de casa, por isso passava muito tempo sozinha. Seu consolo era novamente mergulhar nos caminhos da imaginação. Seus sonhos? Romances fantásticos. Vivendo uma realidade que não lhe convinha, dedicou cada minuto de ócio, cada momento de lazer e descontração a fantasiar uma paixão. Somente aquilo lhe aliviava o peso. Mas, racionalmente, sabia que eram histórias que só existiam nos livros e filmes de romance. Na vida real? Não, não, isso não era possível. Mas desejava, no fundo desejava aquela redenção.
Como se espera de toda mulher casada, Dora foi abandonando suas amigas. Ou suas amigas foram abandonando Dora? Parecia que havia uma simultaneidade nos abandonos. Afinal, é de conhecimento geral que “mulher casada não tem amiga”. Mas isso não significa que sua casa ficasse sempre vazia. Não, seu marido, ainda que não fosse das pessoas mais extrovertidas e comunicativas, tinha alguns amigos que lhe visitavam com certa frequência, e com eles vinham suas esposas. Dora as vezes gostava dessas visitas, aliviavam um pouco a solidão. Mas, por mais resignada que fosse não deixava de se incomodar com a organização sócio-espacial  de sua casa naqueles dias. Os homens ocupavam a sala, sentados confortavelmente nos sofás, enquanto as mulheres, algumas vezes acompanhadas de crianças, circulavam entre a sala, a varanda e, logicamente, pela cozinha. Ela servia os amigos de Leonardo, mas nunca participava das conversas. Sentia vontade, mas os assuntos, normalmente política ou esportes, eram temas sobre os quais ela se sentia insegura para palpitar. Acabava conversando com as outras mulheres sobre a carreira de seus maridos, sobre filhos e assuntos familiares em geral.
E por falar em filhos, Dora sentia um verdadeiro nojo pela ideia de gerar um filho com seu marido, por isso se aplicava com dedicação ao uso dos mais novos métodos anticonceptivos já criados na época. E quanto a isso seu marido não se opunha, preocupado que estava com a estabilidade econômica da família, lançava ao futuro a expectativa de deixar ao mundo um rebento como herança.
E a vida seguia seu curso até um dia em que Dora teve sua rotina de visitas alteradas. Seu marido tinha um novo amigo: Henrique, um jovem estudante de medicina. Havia muitas pessoas na sua casa aquele dia. Além dos anfitriões, lá estavam três casais, cinco crianças e este jovem estudante.  Após o jantar, a maioria das pessoas foi para a varanda conversar. Dora retirou os pratos e foi para a cozinha organizar as coisas. Pouco tempo depois, chegou à cozinha o jovem. Sem perguntar nada, apressou-se a ajudar a anfitriã na lavagem dos pratos. Admirada pela ajuda inédita de alguém do sexo masculino, Dora como boa anfitriã, tentou negar o auxílio. O jovem, com seu jeito extremamente cortês e linguajar polido, afirmou a vontade de ajuda-la na tarefa e iniciou a conversa. Em poucos minutos já falavam sobre os problemas sociais do país e em especial sobre a situação difícil e limitada em que se encontravam as mulheres... Dora estava encantada... Mas, antes que sua presença na cozinha se tornasse demasiado longa e, consequentemente imprópria, o rapaz se despediu e foi juntar-se aos demais homens na varanda.
Dora sentia-se leve. Era como se pela primeira vez pudesse falar sobre assuntos importantes e que lhes eram vetados. Ao mesmo tempo, não podia parar de lembrar daqueles olhos castanhos e de seu contorno levemente asiático. Ouviu alguma coisa sobre sua avó ser japonesa. Aquilo lhe encantava, mais do que os tão invejados olhos azuis celestes de seu marido.
Chegado ao fim da visita, a anfitriã despediu-se dos convidados, mas foi somente a um deles que ela destinou um sincero sorriso de adeus e seus olhos se encheram de alegria.
Para sua felicidade aqueles encontros passaram a se repetir com alguma frequência, assim como as conversas na cozinha. Até o dia em que Henrique tocou sua mão ao pegar um prato para secar. Um arrepio subiu-lhe a espinha e lhe prendeu a respiração. Ele saiu. Alguns minutos depois voltou. Num ato de ousadia, perguntou a ela se haveria algum dia em que pudessem conversar as sós, sem se preocupar com que os outros pudessem pensar daquilo. Sem muito hesitar, ela lhe passou o dia e horário em que seu marido estaria fora de casa, felizmente em uma viagem de trabalho.
A semana inteira Dora ficou a fantasiar sobre como seria aquele encontro. Imaginava ele entrando em sua casa, e sem falar nada, atirava-se apaixonado sobre ela, distribuindo-lhe os beijos e carícias que ela tanto ansiava. Chegada a quinta-feira, lá estava ele, em sua casa. Mas não lhe tomou pelos braços e agarrou seu corpo ao seu. Não, sua postura era mais tímida e repleta de uma delicadeza incomum nos seres do sexo masculino. Ao invés dos beijos exasperados, ele lhe ofertou uma linda conversa em seu tom de voz afável, enquanto amaciavam a moral e a decência com repetidas doses de vinho. Como era inevitável, ao final da tarde chegou o momento em que os dois de fato se fizeram amantes e ainda que não tenha ouvido o badalar dos sinos, Dora se viu completamente imersa numa sensação indescritível de prazer. Nunca sua pele pareceu tão sensível ao toque, nunca um beijo lhe doou e absorveu-lhe tantas energias. Afinal, era então verdade o que aqueles filmes e livros contavam! Por isso tanta gente sonhava em viver uma experiência como aquela!
Mas e o sexo? O sexo... ah... agora sim podia se falar em sexo. Naquele dia, ela foi realmente apresentada a ele. Não podia imaginar que fazer amor pudesse trazer tanta satisfação ao corpo e ao espírito. E ela não conseguia parar de pensar por sequer um momento na sensação quase que indescritível que era sentir o corpo de Henrique sobre o seu, sua pele repleta da pele daquele homem. Lembrar das carícias que lhe percorriam o corpo, dos lábios que lhe tocavam a nuca, das suaves mordidas que lhe faziam institivamente gemer... Pensava ainda na sensação, única até então, de estar tão imersa em prazer que parecia que se avançasse mais um pouco, seu corpo não resistiria ao êxtase e desfaleceria de vez. Mas não, o deleite continuava a avançar e avançava, e sentindo aquele homem que tanto lhe atraía dentro dela, sentindo-se completamente ali, com ele, no mundo real e não dos sonhos, ela conseguiu se lançar àquela sensação e sem mais medo de desfalecer, entregou-se naquela comunhão perfeita...
Mas... dizem que tudo que é bom tem um fim. No dia seguinte Henrique foi embora. Seu marido voltou dois dias depois. Ela temia que aquele tivesse sido o primeiro e único encontro de seu tórrido caso de amor. Durante duas semanas aguardava ansiosa alguma notícia de seu amante, mas nada. Teria ele gostado daquela experiência? Teria sido aquilo tudo fantástico somente para ela? Essas perguntas não paravam de tumultuar seus pensamentos.
Mas passada mais uma semana, lá estava ele em uma visita na sua casa, tão cheia de pessoas como aquela primeira em que os dois se conheceram. Dora estava nervosa, suas mãos não paravam de tremer. Era um misto de nervosismo e ao mesmo ansiedade e satisfação por ver o homem que tanto desejava. Como de praxe, foi na cozinha que ele a abordou novamente e mais um encontro secreto foi marcado.
A este mais alguns se seguiriam, cada vez mais espaçados. E Dora não sabia se era sua impressão ou se o amante pouco a pouco perdia por ela o interesse. E esta angústia enchia sua cabeça de preocupações, de inseguranças! Estaria ela se vestindo mal? Seu desempenho sexual estava abaixo das expectativas do amante, ou teria ele se interessado por uma mulher mais jovem e mais bela? Talvez com estudos, mais assuntos do que aqueles com os quais ele podia com Dora papear? A insegurança tornou-se o estado cotidiano de ser de Dora. Ela só sentia essa insegurança amenizada quando ao lado do amante, este lhe enchia de elogios. Elogiava seu corpo, sua beleza, elogiava sua personalidade. Era um alívio, um alento... Naqueles momentos se enchia de esperança e pensava em terminar de vez seu casamento e entregar-se àquele amor. Pensava muito nisso, mas não falava ao amante. Não falava, pois ele nunca levantava este tipo de assunto. Será que Henrique esperava pela iniciativa dela? Será que não estaria ele também inseguro por Dora não manifestar claramente o interesse de abandonar o marido em função dele? Em meio a otimismos e pessimismos, ela se torturava, mas a demora que se ampliava entre cada novo encontro fazia o pessimismo aos poucos se acentuar. Ela sofria, mas não tinha coragem de questionar ao amante o porquê de tão longos intervalos sem se verem. A cada encontro, vinham os elogios, ele dizia o quanto gostava de encontrá-la e que esperava conseguir revê-la em breve. Vinha o alívio, mas o alívio não resistia ao fato, e o fato era que apesar das desculpas de estar sempre com algum empecilho, Henrique cada vez esforçava-se menos para lhe ver. Sentia-se ansiosa o tempo inteiro, nervosa, padecia a antecipação da perda do amante. Pensava em que estaria errando para que ele não mais a quisesse... esta aflição lhe consumia as energias.
E então, sem mais explicações, Henrique parou de lhe procurar. Esteve no jantar em sua casa, conversou com os homens, mas não foi até a cozinha e despediu-se com um adeus cortês. O coração que parecia explodir, não podendo, apenas transbordou o veneno e a dor que se espalhou em todo o corpo. Os meses se passavam e ela tentava descobrir o que havia acontecido, ou melhor, quem lhe havia substituído. Discretamente sondava as mulheres dos amigos de seu marido e não tardou muito até que descobrisse que Henrique namorava há mais de 3 anos uma colega do curso de medicina e que já estavam de casamento marcado.
Pensava com frequência se Henrique teria em algum momento lhe amado. Conjecturava circunstâncias em que estivesse ela desimpedida: teria ele a destinado exclusivamente o seu amor? Mecanismos inúteis de aliviar a dor. Ou acentuar? Não sabia. Mas havia que seguir adiante, por mais que o adiante não fizesse muito sentido.
Um dia, assistindo “Anna Karenina”, sentiu-se como a personagem do filme, e agradeceu, a sorte (seria sorte?) de não ter se desfeito de uma relação sólida como a personagem o fez em função de um relacionamento fadado ao fracasso. Sorte também de não ter se jogado nos trilhos do trem em movimento. Mas tampouco o trem da sua vida parecia lhe levar a algum lugar. Porém, aceitou seu destino. Que mais faria?
Os anos passavam e antes de completar os 60 anos seu marido faleceu. 

E agora, se viu pela primeira vez sozinha. Ela, que não imaginava sua existência senão em função de um homem, em relação a um homem, mas esse homem nunca existiu e agora Dora estava só. Seu corpo velho, seu rosto já enrugado, não podiam provocar desejos. E agora, o que seria ela, que não construiu a si própria, que só construiu expectativas?
Dedicou sua vida ao sonho, à expectativa. Como um fanático religioso que ao se entregar à promessa de salvação e vida eterna, vive por isso, ela se entregou ao sonho do amor redentor. Parecia fadada à solidão... Mas não... eis que algo por ela se afeiçoou... seu nome? O Desespero, e este trouxe em pouco tempo, para morar com o novo casal, sua noiva. E de uma relação à dois formou-se em pouco tempo um ménage à trois, pois a Loucura estava ávida por integrar a relação.
Assim se encerra a história de Dora e começa a história da velha do casarão.

Mariana Penna, (2008, 2013, 2014)