Ela olhava para seu relógio em
suas cinco horas de diferença, mas não encontrava a coragem para acertar o
horário. Sabia que a ideia era absurda, mas sentia o relógio como um vínculo,
um elo com aquele universo perdido. Um portal seria ele. Não, não seria. Não
existem portais. Teria sido verdade?
De sua vida anterior, fantástica
e intensa, ela partiu para outra forma de vida fantástica e intensa. Agora, não
podia voltar para nenhuma. Talvez uma maldição lhe dissesse: “Já teve muita
sorte, mocinha! Agora vamos pisar no seu freio! ”. Mas não havia freio, o freio
estava tão somente na sua cabeça, na sua cabecinha confusa que busca confusão
onde deveria achar calmaria!
Mas havia sido de fato um
universo em paralelo. Um mundo de possibilidades, de aventuras absolutamente imprevistas.
Um mundo em que ser solitária era a mais alta virtude e levava a um tipo de
liberdade ainda não vivida. A solidão não era um defeito, mas o pré-requisito
para tantas possibilidades. Sentia falta da solidão...
Queria, de alguma forma, de volta,
aquele momento em que o curso normal de sua vida fora suspenso, dando lugar a
um universo paralelo. Queria viver todas as intensidades, queria viver todas as
possibilidades... Queria, queria e queria! Mas sabia que abusava de tanto
querer, que uma vida é muito pouca para tanto e que só se vive um mundo de cada
vez. O tempo é curto, há que correr, há que acelerar! Mas infelizmente, não haverá
jamais intensidade que consiga satisfazer o tanto de seu querer. Como seria
possível, então, atrasar as cinco horas do seu relógio?
Mariana Penna, 2014.